domingo, 1 de fevereiro de 2015

ESPÍRITO CATIVO / CAPTIVE SPIRIT




“CLOSING IN”

Just room for me to squeeze between
         The lowered ceiling and divide,
Just power enough to make the ridge
         And, panting, gain the other side;

Just light enough to see my field
         And in the shadows kiss the grass;
Just strength, just heart, just time enough,
         For me, the tardy one, to pass.

O hill, O strip of clearing sky,
         Hold up the bars till I get by!
O lovely day – forgive my sin,
         One breath of light will let me in!

“APROXIMANDO-ME”

Preciso apenas de um pouco de espaço para passar
      sob o teto baixo e fugir,
apenas de um pouco de força para saltar a cerca
      e por fim, sem fôlego, pelo outro lado, sair.

Preciso apenas de um pouco de luz para ver os campos
      e, na penumbra, beijar a grama;
apenas força, coração e tempo suficientes
      para que eu, sempre atrasada, possa seguir.

Ó montanhas e céus claros,
      esperem por mim!
Ó dia adorável – perdoa-me os pecados,
      um sopro de luz me deixará entrar!

SECURITY

There is refuge in a sea-shell –
Or a star;
But in between,
Nowhere.

There is peace in the immense –
Or the small;
Between the two,
Not at all.

The planet in the sky,
The sea-shell on the ground:
And though all heaven and earth
      between them lie,
No peace is to be found
Elsewhere.

Oh you who turn
For refuge, learn
From women, who have always known
The only roads that life has shown
To be secure.
How sure
The path a needle follows – or a star;
The near – the far.
With what compare
The light reflected from a thimble’s stare,
Unless, on high,
Arcturus’s eye?

The near – the far:
But in between,
Oh where
Is comfort to be seen?

There is refuge in a sea-shell –
Or a star;
But in between,
Nowhere.

SEGURANÇA

Encontramos refúgio numa concha –
ou numa estrela;
mas entre as duas,
não há.

Encontramos paz na imensidão –
ou nas pequenas coisas;
mas entre as duas,
não há.

O planeta nos céus,
a concha na areia:
e embora os céus e a terra
      estejam entre eles,
não encontramos paz
em nenhum outro lugar.

Tu que procuras
um refúgio, aprende
com as mulheres que sempre souberam
os caminhos seguros da vida.
o caminho
seguro de uma agulha – ou de uma estrela;
uma próxima – outra distante.
A que poderíamos comparar
a luz refletida num dedal,
senão ao alto brilho
de Arturo?

Uma próxima – outra distante:
mas entre as duas,
onde
encontrar conforto?

Encontramos refúgio numa concha –
ou em uma estrela:
mas, entre as duas,
em lugar nenhum.

DOGWOOD

The dogwood hurts me as I run
Beneath its load
This Spring.
Those white stars cascading
Down the wood road,
Those white blossoms with their faces
Upturned to the sun.

The grace of their branches is compassionate,
In an uncompassionate world.
The whiteness of their blossoms is too pure
To be unfurled
In a world soiled by the feet of men;
And they are open – too open,
In their flat uplifted acceptance
Of the sky.

Besides,
They lie.
They say –
(And I do not believe!)
They say –
(Oh, they deceive – they deceive!)
They say –
(And I shut my ears to their cry):

“Look, is here, the answer,
It is here,
If your would only see,
If you would only listen,
If you would only open your heart.”
They say –
“Look, it is here!”

CORNISO

O corniso me fere quando corro
com seu peso,
nesta primavera,
formando jorros de pálidas estrelas 
sobre uma estrada coberta por galhos
e alvos brotos mirando
o Sol. 

A graça de seus ramos é piedosa,
num mundo tão impiedoso.
A alvura de suas flores é por demais pura
para se abrir
a um mundo assolado pelos homens;
e elas se abrem – excessivamente,
entregues em sua aceitação
sob o céu.

Além disso,
elas mentem.
Dizem –
(E eu não acredito!)
Dizem –
(Elas mentem – elas mentem!)
Dizem –
(E cubro meus ouvidos para não ouvi-las gritar):

“Vê, está aqui, a resposta,
está aqui,
se apenas pudesses ver,
se apenas pudesses ouvir,
se apenas abrisses teu coração”.
Dizem –
“Vê, está aqui!”

NO HARVEST RIPENING
Autumn 1939

Come quickly, winter, for the heart belies
The truth of these warm days. These August skies
Are all too fair to suit the times – so kind
That almost they persuade the treacherous mind
It still is summer and the world the same.
These gaudy colors on the hills in flame
Are out of keeping with the nun’s attire
We wear within – of ashes, not of fire.

Season of ripening fruit and seeds, depart;
There is no harvest ripening in the heart.

Bring the frost that strikes the dahlias down
In one cruel night. The blackened buds, the brown
And wilted heads, the crippled stems, we crave –
All beauty withered, crumbling to the grave.
Wind, strip off the leaves, and harden, Ground,
Till in your frozen crust no break is found.

Then only, when man’s inner world is one
With barren earth and branches bared to bone,
Then only can the heart begin to know
The seeds of hope asleep beneath the snow;
Then only can the chastened spirit tap
The hidden faith still pulsing in the sap.

Only with winter-patience can we bring
The deep-desired, long-awaited spring.

COLHEITA IMATURA
Outono de 1939

Inverno, vem rápido, pois o coração ainda carrega
a verdade desses dias cálidos. Os céus de agosto
são belos demais para esses dias – tão doces –
e quase convencem a mente traiçoeira
de que é verão e o mundo, ainda o mesmo.
As cores vivas sobre as colinas acesas
destoam das vestes escuras
que trazemos por dentro – são de cinza, não de fogo.

Estação de frutos e sementes maduras, parte!
Não há colheita madura em meu coração.

À noite, traz o gelo que, cruel,
queima as dálias. Os brotos estão escuros, os tufos,
negros e murchos, e as hastes, retorcidas; faz-nos falta –
toda a beleza morta e sepulta sob a terra.
Vento, arranca as folhas, Terra, endurece,
até que sua crosta congele.

Então, apenas quando o interior dos homens se unir
à terra ressecada e aos galhos despidos,
somente então o coração poderá conhecer
as sementes de esperança adormecidas sob a neve,
somente então o espírito puro poderá tocar
a fé oculta que ainda pulsa na seiva.

Apenas com paciência invernal conseguiremos trazer
de volta a tão desejada e ansiada primavera.

THE STONE

There is a core of suffering that the mind
Can never penetrate or even find;
A stone that clogs the stream of my delight,
Hidden beneath the surface out of sight,
Below the flow of words it lies concealed.
It blocks my passage and it will not yield
To hammer blows of will, and still resists
The surgeon’s scalpel of analysis.
Too hard for tears and too opaque for light,
Bright shafts of prayer splinter against its might.
Beauty cannot disguise nor music melt
A pain undiagnosable but felt.

No sleep dissolves that stony stalagmite
Mounting within the unconscious caves of night.

No solvent left but love. Whose love? My own?
And is one asked to love the harsh unknown?
I am no Francis who could kiss the lip
Of alien leper. Caught within the grip
Of world un-faith, I cannot even pray,
And must I love? Is there no other way?

Suffering without name or tongue or face,
Blindly I crush you in my dark embrace!

A PEDRA

Há um sofrimento que a mente
nunca percebe nem consegue entender,
como uma pedra, interrompendo o fluxo da minha alegria,
sob a superfície, despercebida,
coberta por um jorro de palavras,
cortando meu caminho e me impedindo de passar,
mesmo contra minha inabalável vontade e que resiste
ao bisturi afiado da minha análise.
Embora imune às lágrimas e opaca à luz,
atiro-me contra ele, murmurando minhas preces.
Nem a beleza pode encobrir ou a música dissolver
dor tão voraz e desconhecida.

Nem o sono dissolve as lanças de pedra
que se erguem nas cavernas inconscientes da noite.

Não há outro diluente senão o amor. De quem? O meu?
Pode-se pedir amar o terrível desconhecido?
Não sou como Francisco que beijaria a boca
dos leprosos. Presa entre as garras
de um mundo sem fé, eu, que mal sei rezar,
deveria amar? Haveria outro caminho?

Num sofrimento sem nome, nem língua, nem face,
cegamente te estreito num desesperado abraço!

PILGRIM

This is a road
         One walks alone;
Narrow the track
         And overgrown.

Dark is the way
         And hard to find,
When the last village
         Drops behind.

Never a footfall
         Light to show
Fellow traveler –
         Yet I know

Someone before
         Has trudged his load
In the same footsteps –
         This is a road.

PEREGRINO

Este é um caminho
      para se trilhar sozinho,
estreitas sendas
      cobertas de relva.

Escuro é o caminho
      e difícil percebê-lo,
depois de deixar
      a última cidade.

Nenhum passo
      é tão leve,
companheiro de viagem –
      embora eu conheça

um viajante que
      enveredou com seu fardo,
seguindo os mesmos passos –
      este é o caminho.

SAINT FOR OUR TIME
But as last he made his way to the other bank, and set the child down, saying: ‘Child, thou hast put me in dire peril, and hast weighed so heavy upon me that if I had borne the whole world upon my shoulders, it could not have burdened me more heavily!’ And the child answered: ‘Wonder not, Christopher, for not only hast thou borne the whole world upon thy shoulders, but Him Who created the world.’
The Golden Legend

Christopher, come back to earth again.
There is no age in history when men
So cried for you, Saint of a midnight wild,
Who stood beside a stream and heard a child.
No even Francis, brother to the poor,
Who, barefoot, begged for alms from door to door,
And pity-tortured kissed the leper’s brow –
Not even Francis is so needed now
As you, Christ-bearer.
      Christopher, we die
Not for our lack of charity; we lie
Imprisoned in our sepulchers of stone,
Wanting your gift, O Saint, your gift alone.
No one will take the burden of the whole
Upon his shoulders; each man in his soul
Thinks his particular grief too great to bear
Without demanding still another’s share.

But you – you chose to bear a brother’s load
And every man who travelled down your road
You ferried on your back across the flood
Until one night beside the stream there stood,
Wrapped in a cloak of storm, a child who cried
And begged safe passage to the other side –
A child who weighed upon your back like lead,
Like earth upon the shoulders of the dead –
And, struggling to the bank while torrents whirled,
You found that on your shoulder leaned a world.

No wonder that the burden was so great:
You carried in your arms the monstrous weight
Of all men’s happiness and all men’s pain,
And all men’s sorrows on your back had lain.
Even their sins your carried as your own –
Even their sins, you, Christopher, alone!

But who today will take the risk or blame
For someone else? Everyone is the same,
Dreading his neighbor’s tongue or pen or deed.
Imprisoned in fear we stand and do not heed
The cry that you once heard across the stream.
“There is no cry,” we say, “it is a dream.”

Christopher, the waters rise again,
As on that night, the waters rise; the rain
Bites like a whip across a prisoner’s back;
The lightning strikes like fighters in attack;
And thunder, like a time-bomb, detonates
The starless sky no searchlight penetrates.

The child is crying on the further shore:
Christopher, come back to earth once more.

SANTO DE NOSSOS DIAS
E finalmente ele atravessou para o outro lado, colocou a criança no chão e disse: “Colocaste-me em grande perigo e o teu peso foi tão grande, que, se eu tivesse carregado o mundo inteiro nas minhas costas, não teria pesado tanto!” E a criança respondeu: “Não te espantes, Cristóvão, porque não apenas carregaste o mundo inteiro nas tuas costas, mas como Aquele que criou o mundo”.
Legenda Áurea

Cristóvão, volta ao mundo outra vez.
Jamais houve uma época na História em que os homens
clamassem tanto por ti, Santo da meia-noite selvagem,
que estiveste à beira de um rio e ouviste uma criança chamar.
Nem mesmo Francisco, irmão dos pobres,
que, descalço, mendigou, de porta em porta,
e, tomado de compaixão, beijou a testa dos leprosos –
nem mesmo Francisco é tão necessário agora
como tu, Aquele que carregou o Cristo.

      Cristóvão, estamos morrendo,
não por falta de caridade; estamos
presos aos nossos sepulcros de pedra,
esperando possuir teu dom, ó Santo, apenas teu dom.
Ninguém carregará o fardo do mundo
sobre os ombros; cada homem
pensa que sua dor já é insuportável
e não se oferece para repartir o peso alheio.

Mas tu – tu escolheste levar o peso de teu irmão
e aqueles que atravessaram teu caminho
carregaste no ombro para atravessar o rio,
até que, uma noite, encontraste à beira d’água,
em meio à tempestade, uma criança que te chamou
e te implorou para levá-lo para o outro lado –
uma criança que pesou sobre tuas costas como chumbo,
como a terra sobre os ombros dos mortos –
e lutando para alcançar a outra margem através da corrente,
descobriste que sobre teus ombros pesava o mundo.

Não admira que o fardo fosse tão grande:
levaste em teus braços o enorme peso
de toda alegria e toda dor humanas,
e a tristeza de todos os homens jazia sobre tuas costas.
mesmo seus pecados carregaste como teus –
mesmo seus pecados, tu, Cristóvão, carregaste sozinho!

Mas quem hoje correrá o risco ou aceitará a culpa
do outro? Todos agem igual,
temendo a língua, as palavras ou os atos do outro.
Prisioneiros do medo, não ousamos lançar
o chamado que ouviste do outro lado do rio.
“Não há nenhum chamado”, dizemos, “é apenas um sonho”.

Cristóvão, as águas se elevam novamente,
como naquela noite, as águas se elevam; a chuva
estala como um açoite sobre o dorso dos prisioneiros;
os raios caem como combatentes;
e o trovão explode, como uma bomba-relógio,
sobre um céu negro e inexpugnável.

A criança chama da outra margem:
Cristóvão, volta ao mundo outra vez!

Nenhum comentário:

Postar um comentário